Ela começa na rua da Abolição, na Ponte Preta, e vai até a avenida Barão de Itapura, no Guanabara, mas todo o seu fluxo intenso e permanente é no sentido contrário. Esta é a avenida Francisco Glicério, a principal via pública que pulsa no coração da cidade e que, em seus 2,3 km de extensão, é carregada de simbolismos e significados para a história de Campinas.
O seu nome original era rua do Rosário, em função da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que era nela situada, na altura da atual Praça Visconde de Indaiatuba (Largo do Rosário). Em 1956, como resultado do Plano de Melhoramentos Urbanos, ou Plano Prestes Maia, a Igreja foi demolida, sob grande protesto popular.
A cidade crescia, a sociedade do automóvel era cada vez mais hegemônica, e a antiga rua do Rosário, que já se chamava avenida Francisco Glicério, foi alargada, o que exigiu a demolição de vários edifícios, inclusive a Igreja que era amada pela população.
O nome Francisco Glicério foi dado já em 1889, em homenagem a um dos maiores líderes do movimento republicano vitorioso naquele ano. O campineiro Francisco Glicério de Cerqueira Leite nasceu a 15 de agosto de 1846 e faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de abril de 1916, com uma biografia em sintonia com as transformações que o Brasil viveu, desde a Monarquia até a República, do Ciclo do Café ao início da industrialização. Glicério foi o primeiro ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do primeiro governo republicano.
Transitar pela avenida que leva o seu nome imediatamente evoca, portanto, essa vocação republicana de Campinas. A república sempre em construção, assim como a avenida que passa por mudanças constantes em dois séculos de existência, desde o nome original.
Pela avenida Francisco Glicério circularam os bondes, de tração animal e depois elétricos – deixaram de transitar em 1968, como novo emblema das transformações na tessitura urbana de Campinas. A via pública também já foi o palco do desfile de Carnaval de rua, depois transferido a outros locais.
A mais recente modificação no cenário da avenida Francisco Glicério foi o projeto de requalificação, implementado entre 2015 e 2016. A fiação foi aterrada, foram introduzidas novas diretrizes urbanísticas, mas continuaram faltando os aspectos de paisagismo e artístico, como acentuou a autora do projeto de remodelação, a arquiteta Maria Rita Amoroso.
A avenida Francisco Glicério em cíclica renovação, assim como a cidade da qual ela é um dos ícones.