Lidgerwood, pelo patrimônio

A história que se reconstrói e redefine uma cidade. Na noite de 29 de maio de 1987, o arquiteto Antônio da Costa Santos, presidente da sociedade Febre Amarela (a nomenclatura lembra a epidemia que quase devastou Campinas, no final do século 19), recebia uma ligação anônima, informando que estavam sendo demolidas as paredes internas do prédio da Lidgerwood Manufacturing.

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Após rápida mobilização, a demolição foi interrompida. O episódio alimentou o debate sobre a preservação do patrimônio histórico, que naquele momento adquiria contornos especiais, no começo da redemocratização do país. A discussão resultou na criação, a 17 de dezembro de 1987, pela Lei Municipal 5885, do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas, o Condepacc.

De matriz norteamericana, a Lidgerwood Manufacturing chegou a Campinas em 1868, logo se tornando um marco para a indústria nascente, viabilizada pelos capitais acumulados do café. A epidemia de febre amarela motivou a transferência da maior parte dos negócios para São Paulo. A representação local funcionou até 1922.

Sete décadas depois, o edifício mantido sem uso passou a abrigar o Museu da Cidade, resultado da fusão dos Museus Histórico, do Folclore e do Índio, que funcionavam, em condições precárias, no Bosque dos Jequitibás. Em 2014, o edifício passou por para novamente receber, em situação apropriada, o Museu da Cidade. As raízes culturais, o patrimônio, como base para um futuro de qualidade de vida, mantendo os sonhos republicanos mais legítimos.

O panorama mudou completamente desde então. O prédio histórico pertence à Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS). É uma empresa ligada ao governo de São Paulo, responsável pelas soluções de engenharia elaboradas para os órgãos da administração direta e indireta da administração estadual. No início de 2016, a CPOS acenou com a possibilidade de finalização do acerto com o município de Campinas, o que levaria à necessidade de transferência do Museu da Cidade para outro local.

Em julho o governador Geraldo Alckmin prometeu ao prefeito Jonas Donizette que após as eleições em outubro enviaria projeto para a Assembleia Legislativa, oficializando a cessão do imóvel para o município de Campinas. Isso entretanto não ocorreu e o acervo do Museu da Cidade acabou sendo transferido. A memória da cidade continua sendo vítima de interesses políticos e não considerada como um bem público a ser cuidado com muito zelo.

 

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