As texturas da República, as múltiplas camadas da República. O Largo do Carmo, onde nasce a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Matto Grosso, a 14 de julho de 1774, é uma síntese da vocação republicana da cidade. A República e suas contradições.
A primeira missa, celebrada pelo Frei Antônio de Pádua Teixeira, foi acompanhada dos casamentos de um neto do fundador, Francisco Barreto Leme, e de um casal de escravos. Casa Grande e Senzala no marco inicial de Campinas, criada por um bando (antecessor do atual decreto) que previa até o tamanho de suas ruas. Tonalidades iluministas na gênese, e se a tendência para o planejamento foi esquecida, essa é mais uma das singularidades, recorte do claro-escuro da República “à brasileira”.
Na Matriz Velha, como a Igreja era conhecida, começou a florescer o gênio de Antônio Carlos Gomes. O filho de Maneco Músico e Fabiana, morta precocemente, teria carreira fulminante, sucesso no Rio de Janeiro e Europa, sob as bênçãos de D.Pedro II. Com a República, vitoriosa em 1889, após movimento que teve campineiros na liderança, a carreira de Tonico entrou no ocaso, até a morte, em exílio interno, no Pará, em 1896.
As ironias da história. Aquela mesma Matriz Velha, dois anos antes do falecimento, mergulhado na tristeza, do maior ícone cultural da cidade, teve como pároco o padre Landell de Moura, para muitos o inventor do rádio. E “O Guarani”, obra-prima de Carlos Gomes, é bom lembrar, abre todo dia o programa ouvido em cadeia nacional de rádio, a Voz do Brasil.
A sede do novo, a ousadia para superar fronteiras, refletidas no Largo do Carmo, onde hoje descansa o maestro, em monumento-túmulo defronte à Basílica. O Largo do Carmo é a perfeita tradução do drama republicano, das esperanças que gera, dos momentos brilhantes que produz, das promessas que não cumpre.
Belas fotos de Campinas!