Catedral, razão e paixão

A Igreja que hoje é a Catedral Metropolitana de Campinas tornou-se a sede da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em 1870. A Matriz Nova, como era conhecida na época, foi inaugurada em 1883, depois de décadas de obras que se arrastavam, para agonia geral. Mas o novo templo foi concluído, tornando-se símbolo arquitetônico e cultural. Dois nomes se destacam em sua biografia, o do espírito apolíneo, racional, do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), e do espírito dionisíaco, intuitivo, de Vitoriano dos Anjos (1765-1871).

Ramos de Azevedo tinha retornado da Europa em 1869. Em Campinas ele concebeu os primeiros projetos de uma carreira de sucesso, sendo a Matriz Nova, atual Catedral, que ele ajudou a concluir, o seu grande êxito local. Levam a sua assinatura a Escola Ferreira Penteado, o Mercado Municipal, a sede da Mogiana, a Escola Correia de Mello, o Matadouro e vários palacetes, entre outras obras. A cidade imaginada por Ramos de Azevedo estava em sintonia com o ideal da elite cafeicultora, que almejava a modernização do espaço urbano, como espelho do status que adquiria.

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Ao lado de Ramos de Azevedo, brilha na Catedral o gênio de Vitoriano dos Anjos. O baiano tinha produzido obras de destaque em Salvador e foi um dos artistas “importados” para embelezar a Matriz Nova. Os entalhes da varanda do coro, das tribunas, dos púlpitos e do magnífico altar-mor foram executados por Vitoriano, que trabalhou na Igreja até 1862, quando foi dispensado. O retábulo-mor, baldaquino com doze colunas, é a sua obra-prima, exaltada por intelectuais como Stefan Zweig, que visitou a cidade rapidamente. Após a dispensa, Vitoriano deu aulas para sobreviver, mas passou a viver em condição de pobreza extrema, até morrer, centenário, em 1871, no auge da riqueza derivada do café. Assimetria da trajetória republicana em Campinas e no Brasil.

A Catedral Metropolitana de Campinas é um dos locais mais queridos do povo, estando localizada no sítio histórico onde funcionaram o Teatro São Carlos e o Teatro Municipal Carlos Gomes, ambos demolidos. Desde 1985, o ano da redemocratização, suas escadarias são lavadas em singela cerimônia da comunidade negra. Memória e tradição, alavancando o futuro.

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